Restaurante Bella Italia

– Eu A-D-O-R-O dia da massa mãe! – Chelsea sempre foi a irmã mais empolgada. Era de sua natureza ficar feliz com tudo. Até mesmo com um simples prato de macarrão.

Charlotte sentiu a menina lhe abraçar mais forte pela cintura e sorriu. Era revigorante ver os acessos da filha.

– Mas é besta mesmo... Viemos nesse mesmo restaurante todo primeiro sábado do mês desde que tínhamos 5 anos. O que tem de mais nisso, Chel? – Charlize fez uma cara de tédio e revirou os olhos para a irmã. Era a mais centrada das duas, não precisava mais do que dois minutos pra perceber isso. Não parecia, nem de longe, ter os mesmo 9 anos da irmã animada.

Charlotte agradecia todos os dias por ser mãe dessas duas. Gêmeas, Chel e Lizie nasceram de uma gravidez não-planejada quando Charlie mal tinha 16. Hoje eram a vida da enfermeira.

– Você não gosta de vir aqui, Lizie? – Uniu suas sobrancelhas numa expressão de cuidado. Talvez as duas estivessem crescendo e não gostassem mais desse tipo de programa com a mãe. Melhor dizendo, talvez Charlizie tivesse crescendo, porque Chelsea ainda gostava.

Sentiu os braços de Lizie se apertando também contra sua cintura e não conseguiu conter um sorriso.

– Eu gosto, mãe. Mas Chel é exagerada...

– Ah, cala boca e anda, Li...

– Epa! Podem parar as duas senão voltamos todas e comemos pão com manteiga de amendoim no almoço...

– Viu!

– Shhhhhi.

As gemêas emburraram uma pra outra e fizeram uma careta que Charlie fez questão de não ver. Sabia que a implicância das duas era passageira. Elas se amavam demais. Muito mais do que isso, elas eram cúmplices. E isso dava um certo trabalho a mãe.
Cruzaram a rua, ainda braçadas uma na outra, enquanto os poucos raios do sol do meio-dia teimava em alcançá-las por entre as nuvens de chuva. Do outro lado, o Bella Itália estava lhes esperando, acolhedor.

Mal cruzaram as portas e saudações vieram.

– Oi Jane!!!

- Oi gatinha, seria Lizie ou Chel?

– Lizie, Jane. Como vai? E o casamento?!

- Em breve, Charlie! Mesa 2 querida.

– Obrigada, Jane. Vamos meninas.

O restaurante não estava muito cheio. Jane, a simpática recepcionista, já havia reservado uma mesa perto da janela maior. Cruzaram boa parte do salão, alguns cumprimentaram a pequena família. Chelsea sentou o mais perto da janela e virou sua cadeira pra ver a rua.

- O que vão querer, meninas?! Boa tarde, srta. Wrigth!

– Ah, pára com isso, Bob! Como vai???

- Muito bem, Charlie! – o garçom de meia-idade lhe deu um abraço – E essas duas pestinhas aí, dando muito trabalho?

– Eu não dou trabalho, Bob, cê sabe!

– O que vão querer

– Spagetti!!!
– Spagetti!!!- Disseram as duas em quase unissono. Era incrível. Passavam-se os anos e ambas pediam o mesmo prato. Sempre!

- E pra você, Charlie?

- Salada, acho. Algo que tenha palmito.

- Dieta? Porque, definitivamente, você não precisa, mocinha!

- É falta de apetite mesmo!

- Em 15 minutos!

Bob saiu em direção à cozinha e imediatamente se iniciou uma calorosa conversa sobre música. Alguma banda que Charlotte definitivamente não conhecia e, por esse motivo, foi deliberadamente deixada de fora. Não se importou nem um pouco com isso. Era uma prazer inenarrável para ela observar as filhas. Mal conseguia acreditar que conseguira dar conta de criá-las. Não era a toa que se sentia bem mais velha do que aparentava os seus 25 anos.

Se tinha uma palavra que definia como Charlie se sentia agora, era GRATA. Profundamente grata pelo dom da vida.

Titia Alícia estava de namorado novo, e ele havia nos convidado para ir a um restaurante de comida italiana em Forks, se não me engano acho que “Bella Itália” é o nome do lugar. Mas o que importa? Eu não queria ir.

- Ah tia, qual é? Pra que eu vou lá? ‘Tão precisando de alguém pra segura vela? – Gritei em mais uma das tentativas de convencer a cabeça dura da Alícia de que eu não precisava de ir.

– Mon Dieu!* O namorado é seu, você que tem que ir, não eu! – Minha voz ficou três quartos mais alta que antes.

– Escuta aqui Ann, você vai lá sim, deixa de ser mal educada e me obedece! – Como ela não podia estar gritando? Essa calma toda que ela tinha me estressava. Talvez isso que ela queria, que eu ficasse estressada, ai depois começaria a aparecer rugas e mais rugas no meu rosto e eu pareceria uma bruxa rabugenta como ela.

- Tudo bem, eu vou, mas vamos ver por quanto tempo vai me aturar lá. – Agora estava com a voz no mesmo tom que o dela. Dei um sorrisinho falso e subi correndo as escadas, enquanto corria todo meu cabelo loiro esvoaçava para trás. Com o canto dos olhos pude ver minha tia me fuzilando com os olhos. Novamente dei uma risadinha, isso fez com que seu olhar fatal piorasse, exatamente como queria.

Fui logo ao banheiro do meu quarto, primeiro tomei um banho rápido, depois peguei do meu guarda-roupas um conjunto para vestir – uma blusa branca e uma saia jeans – escovei meus cabelos platinados até ficarem bem lisos. Por fim a maquiagem e uma sandália de salto alto.

Ao descer as escadas Alícia e seu namorado já me esperavam em silencio, tudo que se ouvia eram os “clacs clacs” do meu salto enquanto eu descia as escadas. Cheguei ao ultimo degrau e dei mais um de meus falsos sorrisos. – Vamos?

- O que vai querer? – Revirei os olhos. Quero ir de volta para casa, que tal?

– Ahm... Não sei... Talvez um espaguete. Isso! Um espaguete s'il vous plaît!* En outre, vous pouvez faire ma tante me laisser aller?* – Agora, para finalizar a frase com chave de outro, um sorriso malicioso para minha tia. A única que tinha entendido o que eu havia dito.

– Esquece... – Não precisava nem olhar para o garçom para saber que ele não havia entendido uma palavra sequer.

- E vocês, o que vão querer? – olhou para o casou do outro lado da mesa, ignorando totalmente o que eu havia dito. Alícia mantinha os olhos como fendas me fitando, de longe pude ouvir o barulho de seus dentes trincando.

- Olha aqui Anne, se quiser pode ir embora, já que não deseja estar aqui. – O QUE? Não é possível que ele sabia falar francês, não é possível, não é possível. Espera, até que isso não é tão ruim assim, agora eu poderia ir embora, é claro que ia receber um sermão da minha tia. Mas isso não importa agora.

- Ótimo. – Com pressa levantei e sai do lugar a passos largos, para evitar ter uma discussão com minha tia ali. Peguei um taxi e logo cheguei em casa.

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